segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

Do analógico ao smartphone: a aporrinhação que se tornou a Fotografia

Eu sempre curti muito tirar fotos. Fosse numa trip, numa reunião de amigos ou nos eventos de família, eu sempre tava lá com uma máquina na mão, cheia de disposição e cara de pau pra tirar foto de tudo e de todos. E melhor do que tirar as fotos, pra mim, era revelá-las. 

Quando as máquinas eram analógicas, eu aguardava ansiosa o filme acabar, pra poder levar pra revelação e ver as fotos pela primeira vez - na maioria das vezes a quantidade de fotos boas era menor do que a de fotos esquisitas, mas até isso era divertido. Quando a era digital chegou, a ansiedade diminuiu graças ao visor, já que agora podemos ver a imagem na hora e repetir uma mesma foto à exaustão, até chegarmos ao "clique perfeito" - ainda assim, eu fazia questão de selecionar as melhores fotos e levar pra revelação. Isso até o final de 2011.


Máquina analógica em Cabo Frio, digital na Austrália, iPhone em Angra e Go Pro na Croácia.

Outro dia me peguei pensando no por que de eu ter me desapaixonado por fotografia. Então, fui olhar a minha (enorme) gaveta de fotos e vi que não revelo uma desde 2011, mais de três anos - um recorde pra quem mal esperava o rolo de filme acabar e já ia revelar. Uns dias depois, esperando pra ser atendida na depilação rs, resolvi fuxicar o meu próprio Facebook e Instagram e percebi que o frenesi de fotos, marcações e curtidas começou a se intensificar no meio de 2012. Última foto revelada: final de 2011 / Facebook e Instagram bombando: 2012.

Essa proximidade de datas tinha que ter uma ligação, então fui pesquisar no Google. Foi aí que vi que o Instagram foi liberado para Android (sistema operacional mais popular) e vendido para o Facebook em Abril de 2012, ou seja: nunca foi tão fácil tirar, publicar, compartilhar e curtir zilhares de fotos pra zilhares de pessoas. É tanta foto "igual" que cansa, pra quem vê, pra quem posa e pra quem tira. 

Euzinha em NY: não curto selfies, mas essa trip que eu fiz sozinha me obrigou a tirar vários

Além disso, a cada ano a qualidade e as funcionalidades das câmeras estão cada vez melhores (cartões de memória quase infinitos, capas à prova d'água, resolução incrível, etc), sejam elas de smartphones ou não, então todo mundo pode dar uma de editor. Tirar foto deixou de ser uma ação isolada: agora é quase uma obrigação encher a foto de efeitos, escolher uma legenda bacaninha, dizer onde a foto foi tirada e compartilhar em quantas mídias sociais forem possíveis. Se o resultado desse circo todo tiver te deixado gatinho(a) e der a impressão de que você é uma pessoa descolada, melhor ainda (favor, ler esse parágrafo com um toque de ironia). 

Resumo da ópera: eu enchi o saco de tirar foto e, principalmente, de sair em foto. Se antes as fotos eram quase sagradas, porque registravam um momento único e especial, hoje em dia elas parecem servir pra autopromoção em vez de recordação. Acho bem chato quando viajo com uma galera e tem sempre alguém querendo parar pra tirar foto de determinada paisagem, monumento, etc e todas as outras pessoas acham uma boa ideia tirar a mesma foto - quando chega a minha vez, já to achando tudo tão sem graça que eu saio na foto com a maior cara de bunda. Pior do que isso, é aquela história de "deixa eu ver como a foto ficou", e se não ficou boa (o que é super subjetivo), o "fotógrafo" é obrigado a tirar outra(s). Isso explica bastante o por que de eu não ter tantas fotos hoje em dia.

Doze anos depois: em julho de 2013 reproduzi a mesma foto que tirei em julho de 2001
Claro que eu ainda acho fotografia maravilhoso e nunca vou deixar de registrar os melhores momentos das minhas viagens, mas eu tenho uma regra de não tirar mais de uma foto num mesmo lugar nem ficar olhando o visor da máquina / a tela do celular. Outra coisa que me ajuda é tentar dar um "sentido" às fotos, sejam eles divertidos (como nessa montagem de Berlim acima) ou mais sérios (por exemplo, na próxima vez que eu for para o Oriente vou querer registrar o lifestyle dos locais, em vez de o meu corpitcho na frente de um templo qualquer). Além disso, Instagram e Facebook pra mim são meros hobbies, totalmente dispensáveis numa trip. 

E você, conseguiria viajar sem tirar uma fotinho sequer?

2 comentários:

  1. Oioi and, sera que vou ser a primeira a comentar? rs

    adorei esse seu post "do analógico ao smartphone"! Assino embaixo de quase tudo que você expôs aqui, fora o fato de deixar de tirar fotos, nao repeti-las e etc.. Isso é quase que automático no meu caso rs gosto de ter os registros, independente de se vou publicar ou nao.

    Mas realmente, essa parte das pessoas utilizarem a fotografia hoje em dia como forma de autopromoção é uma coisa impressionante!!!! Canso de ver pessoas que só postam foto de paisagem pra ganhar algumas curtidas a mais, e pagar de zen, e muitas vezes sao as mais fúteis e sem conteúdo que vemos por ai! Alias, em geral as pessoas que realmente dão valor pra essas coisas muitas vezes nao estao nem nas redes sociais...

    Enfim, se pudéssemos ter um "retrocesso" nesse aspecto acho que seria de grande importância... as pessoas estao vivendo cada vez mais para os outros, e cada vez menos para elas mesmas... leia isso de forma negativa, pq a primeira vista pode parecer algo bom..

    Adorei! Poste mais, sempre que puder!
    Beijos cintia

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  2. É essa autopromoção é um pouco cansativa mesmo, Cin! Se as pessoas são felizes fazendo isso, então tá ótimo, mas vale dar uma reavaliada no real motivo dessa exposição toda, né...

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